Vez ou outra vale refletirmos sobre os caminhos da nossa modalidade.
Participei recentemente de uma "corrida de obstáculos" que se tornou mania nacional e também no exterior. Trata-se da Bravus Race.
Foto Suely Santos |
Para quem não conhece, esta é uma prova cujo principal objetivo é se superar transpondo todos os obstáculos propostos pelos organizadores. Na etapa de Brasília os obstáculos foram desde a transposição de muretas até a travessia de um tanque com água e gelo. No total, foram mais de 20 obstáculos que realmente desafiam. E quantos participantes? Pasmem, aproximadamente 3 mil pessoas.
Foto Suely Santos |
Fiz a atividade com outros dois orientistas e, como era de se esperar, não tivemos tanta dificuldade.
Você deve estar se perguntando: "mas e o que isso tem a ver com a Orientação"? É sobre isso que gostaria de dividir com vocês algumas reflexões.
A Orientação é uma atividade fascinante, e se você está lendo este texto, muito provavelmente é ou aspira ser um praticante. Ocorre que, ao menos comigo, várias foram as vezes que me perguntaram sobre o esporte e várias foram as vezes que convidei pessoas para conhecerem e participarem. Entretanto, em muitas das vezes ouvi colegas dizendo que não praticariam por terem "medo de se perder" ou de se acharem incapazes de enfrentar os obstáculos naturais do nosso campo de jogo.
Aí está a comparação que faço com a Bravus Race.
Cá entre nós, como é que as pessoas temem fazer orientação mas chegam a pagar quase 200 reais (preços variaram de 110 a 199 reais) para superar os obstáculos da Bravus?
É fato que nossa modalidade ainda não conseguiu encher os olhos dos patrocinadores e da mídia. Mas ainda assim, vale analisar quais são os motivos que levam milhares de pessoas a enfrentar uma Bravus sem nem ao menos experimentar a Orientação.
Particularmente, uma das coisas que creio nos deixa para trás é a nomenclatura que adotamos. Como explicar aos colegas que o nome do esporte não é Corrida de Orientação? Adotamos a nomenclatura que nos afasta, ao menos em termos de marketing, do grande negócio que se tornou a Corrida de Rua. Pior, não estamos aproveitando o fato de que muitos desses ditos corredores atualmente procuram outros desafios. Ecocross, Cross Parques, Bravus Race, Night Run, Corrida de Montanha, Up Hill, são exemplos claros de que as pessoas estão na busca por formas de se exercitar fugindo a cadência do asfalto. Não se esqueçam que uma inscrição em qualquer desses eventos tem um custo médio mínimo de 50 reais.
Tudo bem, deixemos de utilizar o termo "corrida". Este não é o único problema.
Nossa modalidade adota rigor excessivo, por exemplo, na criação de pistas treino. Em nosso caso, se você quiser montar um espaço para treinos num dos parques da sua cidade, antes deverá obter a chancela da CBO. Um campo de futebol não precisa de autorização da CBF para ser criado.
Outra questão que julgo de extrema importância diz respeito à formação de novos orientistas.
Os cursos de iniciação parecem estar longe do que deveria ser seu objetivo. Um único final de semana, avaliação minha, não torna apto o recém orientista a enfrentar uma pista sequer na categoria N. Em minhas andanças fotografando as provas, já posso identificar facilmente aqueles que acabaram de passar pelas clínicas. Pecam, por exemplo, em orientar o mapa já no prisma zero. Aqui em Brasília a primeira prova dos novatos atualmente conta com o apoio de orientistas mais experientes os quais se encarregam de acompanhar e dirimir dúvidas neste momento crítico. Boa medida! Sobre os cursos de iniciação e palestras, encerro perguntando qual o percentual de praticantes permanecem efetivos na modalidade?
Claro que na Bravus ou nas demais provas de corrida rústica uma grande diferença é que não há a necessidade de formação mínima. Basta um par de tênis e a vontade de encarar os desafios propostos. Mas é aí que devemos agir. Nossa modalidade é muito mais que uma simples corrida. Há o desafio mental. É uma corrida inteligente! E formada por praticantes diferenciados. Temos os benefícios do xadrez, da corrida e da educação ambiental numa só modalidade.
Precisamos conversar mais, criar material científico. Avaliar nossas provas, nossos cursos de formação. Perguntar, por exemplo, aos paraibanos como conseguem colocar nas suas etapas locais mais competidores que as etapas do CamBOr. Planejar visando o crescimento sustentável da modalidade. Deixar de lado o bairrismo e as regras injustas. Trabalhar para que alcancemos novamente o respeito da IOF e de seus países filiados. Dividir conhecimentos e partilhar os sucessos e insucessos para que nossas provas alcancem a excelência.
Quem sabe consigamos num curto espaço de tempo tornar a Orientação também uma "mania" nacional e duradoura? Comecemos pensando no que podemos fazer para que aqueles que têm "medo de se perder" ao menos sintam o gosto viciante de encontrar o primeiro prisma!
Boas rotas \o/
orientistaemrota
Olá! Você tem razão, Orientação é fascinante! E a empolgação não termina quando cruzamos a chegada, mas na próxima partida. Acho que as pessoas não tem medo da orientação. Algumas têm medo da desorientação! Sentir-se "perdido" no meio do mato, mesmo que por alguns minutos, não é bom. É preciso determinação e um pouco de coragem para vencer estes minutos e voltar a concentração para localizar o próximo prisma. Correr ou caminhar depende do preparo físico, de colocar em prática o que foi aprendido no curso de iniciação, do terreno... e treino, treino e treino. Quem sabe se os atletas que acabaram de fazer o curso de iniciação fossem acompanhados na primeira competição, este desconforto de "estar perdido" ficasse minimizado? Receber a medalha é a vitória sobre o sedentarismo mental e físico. Orientação é mais que um esporte, é onde a mente e o verde da mata se unem para revigorarem nosso organismo. É um esporte onde o risco de se perder o estresse é certo!
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