Olá, estimados orientistas.
Nossa última conversa abordou um tema muito delicado, mas que carece de mais atenção por parte da comunidade orientista brasileira. E o título do bate papo de hoje, apesar de chocante para alguns, me parece bem apropriado. Vamos orientar nosso mapa, então?
As provas de Orientação são realizadas em ambientes urbanos ou rurais. E cada um desses ambientes apresenta seus perigos e riscos.
Em defesa do esporte, algumas pessoas com as quais conversei acham que não é benéfico listar os perigos e riscos que podemos encontrar numa prova de Orientação. Para eles, isso poderia diminuir o interesse pela modalidade criando uma imagem que reduziria o entusiasmo dos atuais e futuros orientistas.
Entretanto, acredito numa outra linha de raciocínio. Todo esporte outdoor traz seus perigos e riscos. Seja no ciclismo, seja numa corrida cross country, numa prova de canoagem, vôlei de praia (sim, areia nos olhos ou torções de tornozelo acontecem!) ou qualquer outra modalidade na qual o competidor tem que promover grandes movimentos. O enxadrista ou o jogador de poker possuem uma exposição menor a perigos e riscos decorrentes da prática de suas respectivas modalidades. Mas nós, orientistas, gostamos do contato com a natureza. Gostamos de decifrar o mapa. Gostamos de poder escolher nossas próprias rotas. E gostamos, claro, de estar inteiramente bem no final de uma prova para discutir as estratégias, os erros e acertos com os demais orientistas e familiares.
Ao identificar os principais perigos e avaliar os riscos provenientes de suas consequencias, em termos de probabilidade e severidade, estamos tratando de tornar mais segura a prática da corrida de Orientação. No caso específico da nossa modalidade, eu, como competidor, me sentirei mais seguro caso a organização marque no mapa uma região onde há grande incidência de urtigas (veja um exemplo aqui). Poderei traçar uma rota que não irá me expor às queimaduras que este vegetal provoca.
Mapa com indicação de perigo para regiões com urtigas. Copane 2015. |
Uma região com incidência de cercas eletrificadas deve ser conhecida e cabe à organização assegurar que o equipamento está desativado, antes de liberar a área para a competição. Se há uma parte da área cuja travessia é próxima a grandes acidentes topográficos, a colocação de um balizamento é uma iniciativa benéfica que vai diminuir a probabilidade de que algum atleta se exponha desnecessariamente aos riscos de enfrentar o relevo desfavorável. Se desconhecemos o grau de pureza de uma fonte de água bruta, vamos nos certificar de que os pontos de hidratação ofertem somente água de procedência conhecida e adequada para nossos competidores.
A tabela abaixo é um exemplo de exercício para identificar perigos e riscos em provas tipo Sprint e tipo Tradicional, com base meramente em minha parca experiência como orientista (para facilitar o entendimento dos leigos, alguns conceitos podem estar em desacordo com a atual literatura sobre o tema):
Mas depois de identificados estes tais perigos e riscos, o que devemos fazer?
Ora, depois de conhecer melhor os aspectos que oferecem condições danosas aos competidores e ao próprio pessoal da organização (os mapeadores e os montadores de percurso são, provavelmente, os membros das equipes mais expostos aos riscos), é hora de avaliar a ocorrência em termos de probabilidade e severidade. Depois disso, adotar a estratégia de: 1) aceitar perigos e riscos tal qual eles se apresentam; 2) eliminar as fontes de perigos e riscos; 3) isolar os perigos e riscos; ou 4) mitigar (atenuar, reduzir) os riscos. Todo este processo pode ser chamado de Gestão de Riscos.
Notem que em muitos desses perigos identificados e riscos avaliados, a principal estratégia será a mitigação ou o isolamento. Definição da área da prova, uso de rotas balizadas, demarcação de áreas de passagem proibida ou perigosas, traçados dos percursos, avaliação do grau de conhecimento técnico dos orientistas, melhorar os cursos de formação, ampliar a oferta de treinamentos específicos para praticantes, uso de melhores calçados, uso de protetores oculares, aquisição de apitos, utilização de áreas balizadas para novatos, inclusão de pontos de resgate em pontos estratégicos da área de competição (não apenas na linha de chegada), adoção de briefing pré-provas, equipes da organização dotadas de rádios-comunicadores... estes são alguns exemplos de atitudes que podem diminuir a probabilidade de que um acidente ocorra ou, caso ocorra, que sejam menos severas as consequências ao competidor.
Mapa com equipe avançada de resgate (cruz vermelha). WMOC 2012. |
Então, amigos orientistas, proponho que seja adotada a prática de identificar os perigos e avaliar os riscos existentes em todas as atividades da nossa modalidade. Conhecendo esses aspectos, tanto a organização responsável, quanto os próprios atletas terão melhores condições de implantar barreiras adequadas para diminuir ao máximo a exposição aos riscos avaliados.
Não deixe de comentar este pequeno artigo. Participe e ajude a comunidade orientista a tornar mais seguras nossas competições e nosso esporte.
Boas rotas \o/
orientistaemrota
Hoje é imprescindível que se adote a gestão de riscos em todas as áreas, a orientação não é diferente.
ResponderExcluirExcelente artigo meu amigo.
Agradeço imensamente pela leitura e comentário. Vamos tornar nosso esporte mais seguro!
ExcluirCaco, obrigado pela lição! Muito esclarecedora.
ResponderExcluir👏🏻
ResponderExcluirGratidão pela leitura.
ExcluirMuito bom o texto. Mas, a título de sugestão, pra artigo futuro, abordar o tema: "Com o resolver casos de incidente/acidentes numa competição de Orientação". Ah, e um pedido: por gentileza, não utilizem mais a expressão "corrida de orientação": isso gera uma imagem errônea da nossa modalidade e confunde o leigo. O certo é esporte Orientação, ou simplesmente Orientação.
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