Olá, estimados orientistas.
Está chegando mais uma etapa do CamBOr. E dessa vez ocorrerá em época de seca, no cerrado brasileiro. Falando em saúde, oportuna a leitura da matéria abaixo, de minha autoria e publicada na revista Prismagazine.
Quando é hora de desistir
Um orientista
nunca desiste!
Essa é uma frase bastante comum em nosso meio. Vale como um incentivo para que o competidor complete
sua prova, já que a corrida de Orientação é um esporte de muita emoção e que só
revela o resultado final depois que parte o último da categoria.
Esse incentivo é cultural e o orientista o carrega
solitariamente durante seu percurso. Ademais,
aprendemos desde pequenos que desistir não é legal.
Mas até que ponto o nunca desistir é bom para o competidor e
para a competição em si? Desistir de completar o percurso durante uma prova é
realmente uma situação que não faz parte da vida de um orientista? Quais
fatores podem auxiliar o orientista a decidir por continuar ou interromper seu
percurso?
Desistir vem do
latim desistere, significando interromper um propósito, deixar de.
Desistir é, na maioria das vezes, entendido numa conotação
pejorativa. O mérito é dado àquele que persiste, que insiste mesmo diante das
adversidades e, preferencialmente, obtém êxito. Já para o desistente, fica o
martírio da dúvida quanto ao que aconteceria caso continuasse a empreitada. É bem provável que você, orientista e leitor, já
presenciou ou tomou conhecimento de algum colega que desistiu de um percurso e
julgou que o ato de parar foi uma espécie de covardia, de fraqueza.
A prática desportiva, independente da modalidade, exige do
atleta basicamente dois fatores: o domínio técnico e o controle da junção
mente-corpo. Na corrida de Orientação essa dualidade, quase tríade, fica mais
evidente. Ao contrário de
uma corrida normal, temos que monitorar sabiamente o grau de desgaste físico e
o aspecto psicológico, para que seja possível raciocinar a contento
decodificando a simbologia do mapa e definindo as melhores rotas a tomar.
Ocorre que em determinados momentos de uma prova de
orientação, o corpo dá sinais de que o esforço pode prejudicar suas funções
vitais. E consequentemente, a capacidade de raciocínio cai vertiginosamente.
Entender estes sinais pode ser uma vantagem ao competidor no que diz respeito à
manutenção da sua saúde. Essa vantagem
também se reflete, inclusive, numa melhor gestão da organização do evento, já
que se os atletas possuirem melhor domínio da condição física e mental, menor a
probabilidade de acionamentos de equipes de resgate.
Acompanhando as provas de Orientação, não são raros os
momentos em que percebemos colegas chegando extenuados após horas na pista. Também
é comum termos que acionar equipes para buscar aqueles que já estão fora do
tempo limite (mais de 4h, na maioria dos eventos). Dentre os motivos que levam
um orientista a ficar tanto tempo na pista, podemos citar a falta de aplicação
das técnicas de navegação, erros de cartografia, lesões ou a fadiga física e
mental.
Diferentemente de uma prova de corrida de rua, na Orientação
não há uma rota clara e definida. Praticamente todo o campo de prova pode ser
usado pelos orientistas. Além disso, a desorientação espacial pode ocorrer em
vários momentos da prova. Outro aspecto peculiar é que as escolhas de rota
podem tornar um percurso mais ou menos cansativo.
Se numa corrida de rua o atleta que sofre com o desgaste
físico é facilmente atendido, na Orientação há uma previsibilidade baseada na
suposição de qual rota ele adotaria. Ocorre que essa suposição considera o
raciocínio em boas condições físicas. Uma busca emergencial vai procurar o
atleta, primeiramente, pelas rotas óbvias. É importante, portanto, procurar se
manter nessas proximidades.
Você, orientista, deve observar em primeiro lugar como está
sua capacidade física. Sede excessiva,
visão turva, dormência nas extremidades ou nos lábios, calafrios, visão de
túnel, tonturas, cãibras, sensação de esmagamento do tórax, são sintomas que
podem indicar que o momento é de dar uma pausa ou interromper por completo sua
competição.
Caso se depare com algum competidor que claramente não
apresente condições de seguir sozinho, deve buscar auxiliá-lo. Seja entrando em contato com a organização e
informando sua localização, seja apoiando-o até a arena onde está a estrutura
básica da competição. Alguns sinais, não tão óbvios, podem indicar necessidade
de intervenção: lábios ou pontas dos dedos roxos (cianose), pálpebras e mãos
esbranquiçados, pupilas dilatadas, falta de equilíbrio, sudorese excessiva,
incapacidade de responder perguntas simples (data de nascimento, nome da mãe etc.).
Persistir numa prova com os alertas dados pelo seu corpo de
que algo não vai bem aumenta as chances de um colapso físico e mental. E numa
prova de orientação, todos sabem que mente e corpo devem permanecer sãos até o
pórtico de chegada.
O orientista, por característica própria da modalidade, sabe
avaliar contextos e tomar decisões. E aprende a lidar com as consequências de
cada escolha. O que fica de lição, então, é que maior atenção deve ser dada aos
sinais e sintomas físicos e mentais durante a competição ou treino. Respeite
seus limites, inclusive se isso significar parar por um momento. Desistir pode
ser um passo para sua próxima vitória. Desistir, em determinadas situações, é o
que pode te garantir com saúde para competir no futuro e, quiçá, chegar aos 95
anos tal qual nosso colega Rune Haraldsson.
Boas rotas \o/
orientistaemrota
www.orientistaemrota.com.br
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